Cavalgar a Onda da Nazaré
Web documentário sobre os impactos económicos, sociais e ambientais da notoriedade global da Praia do Norte da Nazaré
A 1 de Novembro de 2011, numa praia selvagem e desconhecida de Portugal, um homem desceu uma onda com quase 24 metros em cerca de 24 segundos...
Alguns dias depois, estas imagens correram mundo. A Praia da Norte da Nazaré e Garrett McNamara atingiam uma notoriedade global quase imediata: era aquela a maior onda alguma vez surfada? Algumas semanas depois viria a confirmação do Guinness World Records. Desde então, a Praia do Norte tornou-se um dos maiores palcos no mundo para esse espectáculo único oferecido pelos surfistas de ondas gigantes. Aquele mar, tão temido e tão feroz, passou a ser fonte de orgulho - e também de receitas. Agora, quanto maior, melhor: que venham mais e maiores ondas!
Mas será que maior é mesmo melhor? Quais os impactos económicos, sociais e ambientais desta súbita visibilidade mundial das ondas gigantes da Praia do Norte da Nazaré? Que transformações já são visíveis? Que transformações são desejáveis? E que transformações são indesejáveis? Algo está a mudar na
Nazaré: o quê, de que forma e com que intensidade só agora se começa a compreender...
A Nazaré é uma terra virada para o mar desde a sua origem. Localizada a cerca de 100 quilómetros a norte de Lisboa, a vila da Nazaré é formada pela Praia da Nazaré, Sítio da Nazaré e Pederneira, onde residem em permanência pouco mais de 10.000 pessoas.
A povoação da Praia da Nazaré é a mais recente, tendo sido formada em inícios do século XIX. O seu rápido crescimento ao longo desse século resultou principalmente da conjugação de três factores (1): a migração de parte da população de Ílhavo, a descida para a praia dos pescadores do Sítio da Nazaré e Pederneira e, finalmente, a moda dos banhos de mar e o respectivo afluxo de turistas.
Mais antigas são as povoações que se debruçam sobre a Praia: o Sítio da Nazaré a Pederneira. O berço deste núcleo urbano é a Pederneira, cuja origem é anterior à fundação do Mosteiro de Alcobaça em 1178, tendo sido uma das 14 vilas dos Coutos de Alcobaça. A primeira localização da Pederneira foi a sueste da actual, na margem da lagoa de mesmo nome. De notar que a Pederneira foi um importante porto e estaleiro naval na época de ouro dos Descobrimentos Portugueses.
Porém, em finais do século XIX, a Praia da Nazaré já seria de maior dimensão e teria mais população do que o Sítio e Pederneira. Exemplo dessa evolução foi a inauguração em 1889 do ascensor a ligar as povoações da Praia e Sítio da Nazaré. Ainda, em 1898, os paços do concelho são transferidos para a Praia, sendo alterada a denominação da sede de concelho de Pederneira para Nazaré em 1912. Ao longo do século XX, a Nazaré viria a afirmar-se quer como um relevante centro de pesca, quer como um importante cartaz turístico a nível nacional.
estima-se que a pesca fosse a ocupação de 54% da população activa(3)apenas 4,6% da população empregada tinha como ocupação a pesca ou agricultura na freguesia da Nazaré, enquanto que 76,1% trabalhava no comércio e serviços(4)
Assim, a tendência geral na Nazaré é para a diminuição do número activo de pescadores e diminuição da importância da pesca na economia local, sendo esta cada vez mais orientada para os serviços (4), em particular para o turismo e os serviços públicos e sociais. No entanto, há quem queira remar contra esta maré...
Contra-corrente, um jovem homem da Nazaré faz do mar e da pesca o seu trabalho e filosofia de vida. João Delgado, nascido na Nazaré em 1977, licenciou-se em artes plásticas, porém optou pela pesca - e também pela intervenção social e política.
Pescador profissional desde 2004, João Delgado também é dirigente nacional da Mútua dos Pescadores, actividade que exerce em exclusivo desde o início de 2016. Para além destas funções, João Delgado é membro da comissão concelhia da Nazaré do Partido Comunista Português, integrando ainda a direcção da organização regional de Leiria deste partido. O seu maior desafio na actualidade é o de contribuir para que os profissionais do sector da pesca em Portugal tenham as condições de vida que merecem.
Sobre o impacto económico da notoriedade das ondas da Praia do Norte, João Delgado nota que apesar de se constatar uma grande afluência do turismo e de mais consumo de pescado, tal não se reflectiu ainda no aumento dos rendimentos dos pescadores da Nazaré: “actualmente, os comerciantes de pescado é quem ficam com a maior fatia do valor gerado” e acrescenta “há uma discrepância enorme, desde o preço que é pago pelo peixe na primeira venda e depois o preço do peixe que é pago pelo consumidor final”.
A pesca artesanal na Nazaré – e um pouco por todo o país – vai desaparecendo, se não forem tomadas medidas atempadamente que visem a sua protecção e dinamização, observa ainda João Delgado: “paulatinamente, a pesca vai desaparecendo. As pequenas unidades de produção vão ficando sem capacidade financeira para continuar a investir e para continuarem a renovar, para garantir a sua operacionalidade e manter os postos de trabalho”.
O dirigente da Mútua dos Pescadores da Nazaré defende a organização dos pescadores, para que possam fazer toda a cadeia de valor, desde a produção à comercialização do pescado. No modelo actual, acaba por ser o intermediário quem mais lucra, apesar de ser o pescador quem mais arrisca. De notar que a maior empresa privada do concelho da Nazaré em volume de negócio é uma empresa de comércio por grosso de pescado (5), que facturou em 2014 mais de 15,5 milhões de euros, contando com 29 colaboradores nos seus quadros.
“Impactos sociais, de melhorias substanciais na vida da comunidade, de forma generalizada, ainda não teve aquilo que poderá eventualmente vir a ter - se as coisas forem bem organizadas...” afirma João Delgado sobre a repercussão da popularidade da Praia do Norte na comunidade local. Falta ainda dotar a Nazaré de meios e infra-estruturas suficientes para potenciar este fenómeno, sublinha este jovem pescador.
A continuidade na projecção da Praia do Norte e da Nazaré é fundamental, mas também “relações laborais justas e equilibradas, que possam permanecer de forma continuada no tempo e não com carácter sazonal. Porque depois é aí que se estrutura e se dá coesão à nossa comunidade”. O devido aproveitamento da visibilidade mundial alcançada recentemente passa, na sua perspectiva, pela criação de postos de trabalho e a fixação de trabalhadores e de unidades de produção e de serviços na Nazaré, fortalecendo a coesão social e promovendo um desenvolvimento equilibrado.
Que história gostaria de contar sobre a Nazaré daqui a 10 anos? Este homem do mar responde desta forma: “gostaria de contar uma história muito mais agradável do que aquela que hoje posso contar relativamente à vida dos nazarenos, à falta de oportunidades, à capacidade que actualmente a Nazaré não tem de fixação de trabalho continuado”. Mais condições para os jovens se fixarem na Nazaré e desenvolverem as mais diversas actividades, já que na actualidade muitos têm que migrar ou emigrar para poder subsistir. “Daqui a 10 anos, eu gostaria de poder dizer que finalmente a Nazaré encontrou o seu rumo” – remata assim João Delgado.
A nova vaga de homens do mar da Nazaré é surfista de profissão. Hugo Vau, nascido em Lisboa em 1977, é já presença habitual nas ondas gigantes da Nazaré. Este surfista português já obteve sete nomeações para os prémios XXL Big Wave, inclusive tendo sido um dos cinco finalistas na categoria “Biggest Wave”/ Maior Onda em 2015.
Hoje em dia, a casa de Hugo Vau é na ilha da Terceira nos Açores, onde tem uma empresa própria com sua mulher - a Gigante Expeditions - na área do turismo sustentável. Este surfista é também pescador, mas curiosamente, nunca teve pessoas da sua família com ligação ao mar: nem pescadores nem surfistas.
Em 2005, Hugo Vau surfou pela primeira vez na Nazaré. Já em 2007, foi convidado para fazer a segurança no mar de um campeonato de bodyboard na Nazaré - o Special Edition -, tendo regressado em edições posteriores. Até que em 2011, Hugo Vau recebe um convite de Garrett McNamara, para fazer parte do grupo de pioneiros de surf de ondas gigantes na Praia do Norte, que também incluiu Andrew Cotton.
“A relação pessoal que eu tenho com as ondas da Nazaré é sem dúvida muito especial” revela Hugo Vau, acrescentando que “foi aqui que eu concretizei os meus sonhos, nomeadamente surfar a maior onda da minha vida”. Este surfista de ondas gigantes chama à Praia do Norte um “palco de realização de sonhos”, já que muitos atletas aqui têm conseguido as suas melhores performances, como ele próprio, Garrett McNamara e muitos outros. Para Hugo Vau, a Praia do Norte será provavelmente o “melhor campo de treino no mundo para se dirigir motas de água e para se fazer surf de ondas grandes”.
Sobre os impactos da visibilidade mundial das ondas gigantes da Praia do Norte, Hugo Vau nota uma grande afluência de pessoas à Nazaré, sobretudo de público apaixonado pelo surf e pelo mar: “isto não é só um espectáculo de surf, é também um fenómeno natural único no mundo, em que as pessoas podem estar com uma proximidade impar daquelas ondas gigantes”.
A actual popularidade dos surfistas e das ondas gigantes da Nazaré contrasta com o que se verificava no início do projecto que trouxe até este local Hugo Vau e os seus colegas Garrett McNamara e Andrew Cotton, em que não viam quase ninguém em terra, para além de meia-dúzia de pessoas e alguns repórteres de imagem: “nos dias em que há ondas grandes, estão largas centenas ou mesmo milhares de pessoas a vibrar, a gritar, a assobiar, como se estivessem num jogo de futebol, em que só há uma equipa, que é mais engraçado.”
Para a economia local, o saldo tem sido positivo, observa Hugo Vau, já que a época das ondas gigantes decorre no Outono e Inverno, em que tradicionalmente o afluxo de visitantes era muito baixo, em contraste com o Verão: “hoje em dia, as coisas inverteram-se, porque mesmo que não haja ondas gigantes, principalmente aos fins-de- semana, o farol está cheio de gente, aquela zona do Sítio (da Nazaré) está lotada, os restaurantes estão cheios”.
Outro impacto positivo foi a criação de um esquema de segurança eficaz, permitindo aos surfistas de ondas grandes o usufruto mais seguro deste mar e a minimização de riscos. Tal torna a Nazaré um local ainda mais apetecível: “a Nazaré é provavelmente dos sítios mais perigosos do mundo para fazer surf”, acrescenta, mencionando ainda que a segurança na Praia do Norte já está “muito perto da perfeição”
Se a nível da segurança no mar já está quase tudo feito, em relação às infra-estruturas de apoio à Praia do Norte e Forte de São Miguel, Hugo Vau aponta algumas melhorias a fazer, em particular, casas de banho e bancos de madeira para o público: “Esse tipo de pormenores que podem ser relativamente melhorados – e com baixo custo. Nunca descurando a parte de não danificar aquela área verde, que é quase como um santuário da Nazaré”.
Em relação aos aspectos negativos, Hugo Vau refere alguns os efeitos da massificação deste fenómeno: “começou a haver transito em sítios que nunca havia. Mais pessoas, mais carros” e sublinha “mas 90% das coisas são positivas, no fim de contas”. Ainda que este novo “episódio” seja interessante e positivo, em particular para todos os surfistas que rumam à Nazaré, Hugo Vau confessa que não se identifica muito com esta fase, que considera ser um “pouco mais comercial”. O que não muda, sublinha este homem do mar, é o seu sentimento profundo pelas ondas da Nazaré: “a única coisa que não varia é a humildade e o respeito pelo mar”.
Para além de Hugo Vau, outros surfistas de ondas gigantes fazem da Nazaré como se fosse a sua segunda casa. Garrett McNamara é o mais conhecido destes atletas. Andrew Cotton, Sebastian Steudtner, Ross-Clarke Jones, Shane Dorian, Benjamin Sanchis, Alessandro Marcianó são também presença habitual na Nazaré durante a época das ondas gigantes. Ainda de referir os brasileiros Carlos Burle, Pedro Scooby, e Maya Gabeira: esta surfista, quase chegou a perder a vida na Praia do Norte em 2013, na sequência de uma aparatosa queda de uma onda gigante.
A vinda da elite de surfistas de ondas gigantes, de dezenas de fotógrafos e videógrafos e, ainda, de milhares de entusiastas é a face mais visível da popularidade alcançada pela Praia do Norte. Porém, outras mudanças já podem ser observadas, ainda que possa não ser fácil vê-las a olho nu.
Significativo ainda foi o lançamento da campanha internacional dos novos modelos de SUV da Mercedes-Benz em 2015 (13), na qual McNamara foi um dos embaixadores da marca, tendo como cenário principal a Praia do Norte da Nazaré. O director de marketing da Mercedes-Benz Portugal, Jorge Aguiar, recorda que primeiro a marca surgiu associada ao atleta para dar apoio ao transportes das motas de água e do restante equipamento, só mais tarde surgiram ideias como a da prancha especial para as ondas da Praia do Norte.
“Hoje em dia, há uma ligação muito profunda entre a marca Mercedes-Benz, o Garrett e a Nazaré”, afirma Jorge Aguiar, acrescentando ainda que esta foi “uma ligação que surgiu sem uma visão, sem uma estratégia, que surgiu a partir de uma conversa”. O responsável máximo pelo marketing da Mercedes-Benz em Portugal reconhece que há um retorno claro do investimento desta marca em McNamara e nas ondas da Nazaré, que actualmente é percepcionada de forma diferente por um público mais jovem: “hoje em dia somos uma marca mais jovem, mais inovadora, disruptiva, que aceita desafios e coloca desafios”.
Apesar de não poder adiantar os valores investidos pela Mercedes-Benz nos projectos e campanhas associados a McNamara e à Praia do Norte - até por serem difíceis de quantificar, dada a natureza dos projectos realizados - , Jorge Aguiar revela que são valores baixos, mas com grande eficácia de comunicação. A criação de conteúdos digitais representa a maior parte do valor investido pela Mercedes-Benz Portugal na sua ligação a McNamara e à Nazaré, de que é exemplo o projecto Red Chargers, lançado em Outubro de 2015.
Os grandes investidores e grandes investimentos começam a surgir em outro tipo de actividades, como seja a promoção de projectos imobiliários. A título de exemplo, em meados de 2014, o grupo internacional Circle Of Innovation Immobilien anunciou que pretendia construir na zona próxima da Igreja de São Gião, a sul da Praia na Nazaré, um empreendimento turístico orçado em 750 milhões de euros, a ocupar uma área de 250 hectares (14). Campo de golfe, apartamentos e vivendas fazem parte deste projecto imobiliário - denominado Golden Sunset Resort (15)-, que está voltado para o turismo sénior, prevendo os seus promotores que possa gerar 1.000 postos de trabalho.
Como saber equilibrar a pressão de grandes agentes económicos com o desenvolvimento sustentável de desta região é decerto uma questão complexa de resolver. Numa escala diferente, na Nazaré surgem também pequenos negócios inovadores, que têm uma visão de integração na comunidade local, aproveitando o que já existe e sabendo tirar partido das novas oportunidades de negócio que as ondas estão a potenciar.
A questão dos impactos ambientais da visibilidade mundial da Praia do Norte e do promontório da Nazaré também deve ser colocada. Aquela que era um local selvagem e quase desconhecido passou, quase de um dia para o outro, a ser muito frequentado por centenas ou mesmo milhares de pessoas num intervalo de horas.
O conceito de capacidade de carga de um ecossistema, vindo da ecologia, pode ser útil para compreender os riscos associados a tal pressão, como refere a bióloga Sofia Quaresma, da Associação Portuguesa do Lixo Marinho (APLM).
Até onde podemos “esticar” este ecossistema? Sofia Quaresma nota que a Praia do Norte está num lugar confinado e que não está ainda bem preparado em termos de acessibilidades: “de repente vêm muitas pessoas para cá, em massa. Obviamente que essas pessoas vão precisar de estacionar, de caminhos para ir para a praia, beber muitas garrafas de água, vão deixar muito lixo”.
Esta bióloga observa ainda que “se num dia nós tivermos 500 pessoas que vêm cá e se metade deixarem a beata do cigarro, o maço de tabaco que acabou, a garrafa da água que ficou vazia na duna, é claro que o impacto no ecossistema é grande”. Assim, a capacidade de carga deste ecossistema é excedida, com a agravante deste local também ser exposto aos detritos vindos de outras partes do mundo, já que o mar não tem fronteiras, acrescentando Sofia Quaresma: “o lixo que alguém deixa aqui, quer sem querer, quer por desmazelo, também pode ir parar a qualquer outra parte do planeta. O problema é enorme exactamente por isso”.
Numa rápida recolha de lixo na Praia do Norte, a bióloga da APLM encontrou os mais diversos tipos de detritos não-biodegradáveis: bóias de pesca, paus de cotonetes, palhinhas, frascos de plástico, tampas de plástico... “É desejável que as pessoas utilizem o espaço com regras e com comportamentos adequados. Porque ao fim e ao cabo, nós estamos num local que é selvagem e que é público”, remata Sofia Quaresma.
O biólogo marinho Gonçalo Calado considera que este fenómeno da onda da Praia do Norte é um exemplo relevante de “uma mudança de paradigma em relativamente ao mar, à economia do mar e aos novos usos do mar”. Professor e investigador da Universidade Lusófona, Gonçalo Calado observa que esta é a mesma onda “outrora era temida pelos pescadores”, que muitas vezes os impediu de retirar sustento do mar. Actualmente, esta onda é por todos apetecida, por surfistas e por quem ganha a vida com o turismo: “e é ela que traz o sustento, mas de outra forma”.
Num artigo publicado no jornal “Público” em Janeiro de 2013, Gonçalo Calado escreveu que “a onda na Nazaré constitui um dos mais desafiantes novos usos do mar” (17), considerando-a inclusive “assunto de Estado” pela visibilidade global alcançada. O biólogo marinho traçou um paralelo com os Açores, em que a proibição da pesca aos cachalotes em 1987 alavancou a “transferência da actividade económica da baleação para a observação dos mesmos animais” e, assim, uma indústria turística que “rende agora milhões por ano”.
Para Gonçalo Calado, a questão essencial é a de potenciar a onda, tentando que as suas características únicas sejam ainda mais divulgadas e devidamente exploradas, com a aposta em algumas infra-estruturas de excelência, como sejam centros de interpretação e centros de alto rendimento, para teste de equipamentos: “tudo o resto, da economia local e até do pais, virá atrás disso”. No fundo, sublinha Gonçalo Calado, há que saber usar o “pretexto da onda da Nazaré” para que mais pessoas venham e conheçam melhor a Nazaré, a região Oeste e mesmo todo o país.
Para o exterior, a Nazaré é agora muito apetecível, nos mais diversos planos: para promoção de marcas, para investimento imobiliário, para pequenos negócios inovadores, para iniciativas de literacia do oceano, entre outros exemplos possíveis. Mas será que a população local já beneficia efectivamente desta notoriedade da Praia do Norte?
Na perspectiva do actual presidente da câmara da Nazaré, Walter Chicharro, a Nazaré está no bom caminho: “o impacto das ondas gigantes na vivência diária do povo da Nazaré, nos últimos 3 ou 4 anos, é algo bastante visível”. Para o autarca, à frente do município desde 2013, o reconhecimento global das ondas da Praia do Norte tornou possível “atacar uma parte baixa do ano turístico”, nomeadamente os meses de Outubro e Novembro. E mais, tal permitiu também que em época alta a Nazaré tivesse uma “dinamização maior”, nota Walter Chicharro. A suportar a sua afirmação, o responsável camarário aponta os seguintes números: 80 mil bilhetes vendidos para visitar o Forte de São Miguel Arcanjo e 838 mil passageiros do ascensor da Nazaré em 2015.
Ainda, este autarca refere a apresentação de propostas de empresários estrangeiros, que demonstram a notoriedade alcançada pela Nazaré: “a breve prazo, acredito que na área da hotelaria, (teremos) duas ou três unidades hoteleiras novas: conceitos diferentes, que vão de um hotel de luxo a um aparthotel de luxo”. Ainda em relação ao futuro, Walter Chicharro aponta a requalificação dos acessos ao Forte de São Miguel Arcanjo como um projecto importante e, também, a realização de eventos internacionais, alguns deles já programados para 2016, como é o caso em Outubro de uma das etapas do circuito mundial de bodyboard.
A visão optimista do actual responsável máximo do município da Nazaré também é partilhada por Dino Casimiro, um dos jovens que deu início ao processo que viria a culminar na obtenção do record mundial por Garrett McNamara em 2011. “A Nazaré teve uma grande evolução a nível turístico, a nível económico” afirma Dino Casimiro, notando que apesar de ainda não haver estudos que o provem, uma coisa é certa: “a Nazaré deixou de depender tanto do Verão”.
Licenciado em educação física, Dino Casimiro nasceu em 1977, na Nazaré, sendo actualmente técnico superior da empresa municipal Nazaré Qualifica. Ainda, Dino Casimiro é um dos fundadores do Clube de Desportos Alternativos da Nazaré (CDAN), do qual já foi dirigente e treinador. Para compreender como é que Garrett McNamara conquistou o record mundial da maior onda alguma vez surfada na Praia do Norte será necessário conhecer a história do CDAN e, até mesmo, conhecer a história do surf na Nazaré. Dino Casimiro deu um contributo crucial a este processo, ao enviar uma fotografia tirada em 2005 a Garrett McNamara – este é um momento decisivo, que faz parte de uma história que merece ser conhecida...
Sobre o devido aproveitamento da notoriedade da Praia do Norte, Dino Casimiro considera que ainda há muito por fazer: “a onda da Nazaré pode ser um catalisador de tudo”. Porque nós temos uma zona envolvente linda, para a prática dos desportos, para sensibilizar as nossas crianças para a educação ambiental”. Importante ainda, a qualificação das diferentes actividades relacionadas com o turismo, observa este técnico da Nazaré Qualifica: “temos que receber os nossos visitantes de forma correcta, darmos valor a quem nos visita e retribuir com um sorriso, com a nossa simpatia e com um serviço de qualidade”. Nazaré no centro do mundo do surf – esta é uma a forte convicção de Dino Casimiro, que vê neste desporto um bom pretexto para promoção da Nazaré e da região envolvente: “quando nós comunicamos uma onda, nós mostramos a beleza da Nazaré, a sua cultura, a gastronomia. Isso torna a Nazaré especial – porque a Nazaré é especial.”
João Vidinha observa que a notoriedade da Praia do Norte “tornou o desporto do surf mais reconhecido. Ajudou a tornar o surf como um desporto a praticar”, verificando que tem aumentado o número de praticantes, de alunos e de escolas. A Crave Surfboards é uma empresa em expansão, que actualmente está localizada num dos armazéns de pesca do porto de abrigo da Nazaré. Para além de desejar que venham mais surfistas, João Vidinha não esquece a importância da actividade piscatória na Nazaré: “gostava de ver a pesca ainda melhor. Eu sei que a Nazaré que muito mais para dar”.
De igual modo, outros donos de pequenos negócios tradicionais da Nazaré - como a venda de peixe seco e o artesanato local - verificam alguma melhoria no negócio, ainda que reconheçam que há quem esteja a beneficiar mais.
A Nazaré enfrenta assim um grande desafio: como aproveitar as novas oportunidades geradas pela notoriedade global das ondas gigantes da Praia do Norte, sabendo conjugar o progresso económico com a melhoria da qualidade de vida da sua população, sem descurar a preservação do meio ambiente?
Cavalgar a onda da Nazaré será uma arte só de alguns? Ou será um desígnio de todos? Quem vai beneficiar efectivamente com a popularidade mundial da Praia do Norte da Nazaré - e de que forma?
A atestar a dimensão internacional já conquistada pela Praia do Norte, a Nazaré vai receber uma das etapas do campeonato mundial de ondas grandes – o World Surf League “Big Wave Tour” – com janela de 15 de Outubro de 2016 a 28 Fevereiro de 2017. A Nazaré é dos seis locais onde vão decorrer estas provas, a par de Punta de Lobos (Chile), Pico Alto (Peru), Pe'ahi (Havai), Puerto Escondido e Todos Santos (México).
Esta onda sempre esteve lá:
só agora começou a ser cavalgada...
Web Site optimizado para computadores portáteis ou computadores desktop.
Copyright © 2016 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Todos os direitos reservados.
Apoio à produção: